Fonte: www.gauchazh.clicrbs.com.br

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, voltou a criticar nesta sexta (17) propostas para elevação dos impostos sobre a gasolina. Segundo ele, eventual medida nesse sentido pode afetar o abastecimento de gás de cozinha, que já vem enfrentando dificuldades. Em entrevista pela internet para comentar impactos da pandemia nas operações da empresa, voltou a criticar lobbies por benefícios ou subsídios do que chama de “capitalistas inimigos do capitalismo”. Disse ainda que a Petrobras não vai quebrar e que sairá mais forte da crise.

O aumento dos impostos sobre a gasolina é pleito do setor de cana-de-açúcar, com o objetivo de garantir maior competitividade para o etanol em um cenário de baixos preços do petróleo. Nesta sexta, Castello Branco argumentou que o gás liquefeito de petróleo (GLP, o gás de cozinha) é produzido junto com a gasolina nas refinarias da estatal, que já vêm operando com capacidade reduzida para controlar os estoques em meio à queda da demanda.

A estatal vem reforçando as importações de gás de cozinha para compensar a perda da produção interna, mas Castello Branco diz que a infraestrutura para colocar o produto importado no mercado brasileiro é limitada. Ele ressaltou, porém, que no momento não há riscos de desabastecimento, embora revendedores alertem para problemas na entrega do produto em algumas regiões.

Em boletim divulgado nesta sexta (17), a Agência Nacional de Petróleo diz que as entregas de gás de cozinha aos distribuidores estão atrasadas no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pará e Amazonas, devido à mudança de perfil do consumo após o início das medidas de distanciamento social.

– Nesta época do ano, a demanda por GLP tende a aumentar de forma sazonal, principalmente no sul e no sudeste. A hipótese de vir a se colocar imposto de importação sobre a gasolina para beneficiar produtores de etanol pode ter efeito muito negativo. No mês de abril, importamos 350 mil toneladas, o que é mais do que suficiente para abastecer o mercado – afirmou.

O presidente da Petrobras disse que a possibilidade de aumento na operação das refinarias é limitada pela falta de capacidade para estocar os produtos. Ele diz que a empresa teria que afretar navios para guardar estoques e que isso implicaria em “sérios prejuízos.”

A companhia ainda não avaliou os impactos da crise em seu balanço. O foco, diz Castello Branco é se preparar para enfrentar o curto prazo com dinheiro em caixa. Por isso, desde o início da pandemia de coronavírus, a empresa vem adotando uma série de medidas de corte de custos. A projeção de investimentos para 2020 foi reduzida em quase 30%, dividendos e bônus para executivos foram suspensos e os salários de cargos de chefia, reduzidos. A companhia também vem renegociando contatos com fornecedores de bens e serviços.

Por outro lado, acionou uma linha de crédito no valor de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões). A diretora financeira da estatal, Andrea Marques de Almeida, disse que caso seja necessário, novo financiamento pode ser tomado. Ela também evitou fazer projeções, mas disse que dificilmente a companhia atingirá sua meta de endividamento para o ano, de 1,5 vezes a geração de caixa medida pelo Ebitda.

Para enfrentar a queda de consumo, a Petrobras decidiu também reduzir sua produção de petróleo, paralisando 62 plataformas menos rentáveis. De acordo com o diretor de Exploração e Produção, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, disse que o teto de produção de 2,07 milhões está sendo respeitado. Ele disse, porém, que a operação no pré-sal se mantém rentável com petróleo no cenário atual.

– Temos uma carteira muito robusta, particularmente no pré-sal. Mesmo num cenário de US$ 20 (R$ 105) por barril, a carteira é robusta – afirmou.

Contágio em plataformas

A produção vem sendo afetada também pela contaminação de trabalhadores em plataformas. Atualmente, duas unidades da empresa estão paradas para desinfecção. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), 78 trabalhadores que estiveram em plataformas já tiveram confirmação de covid-19.

A estatal diz que vem adotando medidas para reduzir os riscos de contaminação, mas admitiu nesta sexta a possibilidade de iniciar um processo de testagem prévia dos embarcados, conforme vem sendo solicitado pelos sindicatos de petroleiros.

– Na medida em que há evolução no quadro e a gente identificar da testagem prévia, é uma possibilidade. Já estamos discutindo com Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e conversando com fornecedores de testes, de maneira que possa passar a testar todos os empregados – disse o diretor de Relacionamento Institucional da empresa, Roberto Ardenghy.

Castello Branco disse que o cenário ainda é muito incerto para fazer projeções sobre retomada dos preços ou do consumo. Segundo ele, a empresa está se preparando para sobreviver em um cenário mais desafiador.

– A Petrobras não vai quebrar – garantiu.

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