Fonte: EPBR / Imagem: Daniela Dacorso/Divulgação FUP

Um estudo do grupo de trabalho Agenda 2030 apresentado na Câmara dos Deputados este mês alerta para retrocessos do Brasil nos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU em 2015.

Das 169 metas, 54,4% estão em retrocesso, 16% estagnadas, 12,4% ameaçadas e 7,7% mostram progresso insuficiente, revela o Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030.

Dentre os retrocessos, o documento aponta o aumento do uso de lenha ou carvão para cozinhar alimentos.

“É possível avaliar que de progresso insuficiente a meta 7.1 passou a ameaçada em relação ao tipo de combustível usado na preparação de alimentos”, diz o relatório.

A meta 7.1 da ONU é assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a serviços de energia até 2030.

Na Câmara dos Deputados, parlamentarem tentam tirar do papel a criação de um novo programa para o gás de cozinha.

Com a pandemia e as restrições orçamentárias, o IBGE não divulga esses indicadores há quase dois anos.

“Embora comecem a repercutir notícias na imprensa sobre o aumento do uso de lenha e carvão para cozinhar e seus impactos nos acidentes domésticos e danos à saúde nestes momento de sobrecarga do sistema de saúde, 2020 foi um ano de falta de dados o que compromete a análise da evolução do ODS 7”, criticam os pesquisadores.

Os levantamentos mais recentes mostram que entre 2016 e 2019, o IBGE registrou um aumento de 18% para 21% no número de famílias que usam lenha ou carvão para cozinhar.

O Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), por sua vez, aponta que a participação da lenha na matriz energética residencial subiu de 24,4% para 26,1% no mesmo período. O GLP recuou, de 26,5% para 24,4%.

Há dois anos, uma em cada quatro famílias brasileiras usava lenha em algum momento para fazer seus alimentos, destaca o relatório da Agenda 2030.

No Sudeste, onde historicamente o uso de lenha é mais raro, o aumento foi ainda maior, mais de 60%, comparativamente.

Mas vale ressaltar que os dados estão desatualizados e não refletem o cenário atual de acelerado processo de empobrecimento da população brasileira.

Maior uso de lenha reflete retrocessos em políticas públicas

 

Mais pobres perdem acesso à compra de GLP
A elevação dos preços do gás de cozinha tem impacto relevante sobre a população de baixa renda.

Desde o fim da diferença de preços do GLP, em agosto de 2020, o preço médio do botijão subiu 24% até junho deste ano para o consumidor final.

Com a política de valorização do salário mínimo e o subsídio-cruzado por meio da diferenciação de preços do GLP da Petrobras, a relação entre o preço do botijão de 13 kg e o salário mínimo saiu de 12,1% (2003) para 5,9% (2014) nos governos do PT.

O percentual voltou a subir nos governos Temer e Bolsonaro, chegando perto de 8% este ano.

Com o custo do botijão comprometendo parte significativa da renda, famílias passaram a usar lenha para cozinhar e até para aquecer água para o banho.

Dados mais recentes da EPE mostram que em 2020 o consumo residencial de lenha já havia subido 1,8%.

O avanço nos preços levou o governo federal a lançar subsídios para tentar desonerar o botijão de 13kg consumido nas residências brasileiras – com altos custos para os cofres públicos e pouco impacto no preço final ao consumidor.

O desconto de R$ 2,18 por botijão, sem distinção entre ricos e pobres, não foi capaz de amenizar o custo que o energético representa para quem ganha um salário mínimo, por exemplo.

Com o preço médio de R$ 87,43 (em junho), o GLP ainda compromete quase 8% da renda de quem ganha R$ 1.100.

E pressiona a inflação entre os mais pobres.

O indicador Inflação por faixa de renda divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a inflação das famílias mais pobres é maior que a das famílias de renda mais alta.

Em maio, a maior taxa de inflação ocorreu entre as famílias de renda muito baixa (renda domiciliar menor que R$ 1.650,50), que registraram alta de 0,92%, ante variação de 0,49% das famílias de renda alta – renda domiciliar acima de R$ 16.509,66.

Quase metade da alta da inflação (46%) para os mais pobres em maio veio do grupo habitação, com impacto de 0,42 ponto porcentual da taxa de 0,92%.

As principais pressões vieram de energia elétrica (5,4%), tarifa de água e esgoto (1,6%), gás de botijão (1,2%) e gás encanado (4,6%).

Com a alta maior em maio, a inflação acumulada em 12 meses das famílias mais pobres (8,91%) se distanciou ainda mais das famílias mais ricas (6,33%).

Com informações do G1 e Valor.

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