Fonte: Tribuna do Norte / imagem: Pexels-Adonyi Gábor

O número de casos de queimaduras registrados no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) de janeiro a maio de 2023 foi 23% maior do que o mesmo período de 2022, de acordo com levantamento da instituição. Foram 265 entradas este ano, frente aos 215 casos do ano passado. A maioria das emergências são de queimaduras térmicas, causadas pelo calor ou pelo frio, com 223 atendimentos, frente aos 161 registros de 2022. O centro ainda costuma receber uma média de 20 a 30 vítimas de acidentes graves relacionados a tradições do período junino, como queimaduras por fogos e rojões.

Segundo levantamento do CTQ, entre janeiro e maio deste ano, 20 pessoas deram entrada na unidade vítimas de queimaduras elétricas. Nesse caso, o quantitativo se manteve o mesmo com relação ao ano passado. Em relação às queimaduras químicas – provocada pela ação de agentes corrosivos, como ácidos – foram 22 casos em 2023 e 34 ocorrências em 2022.

Já segundo o cirurgião plástico do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) e membro do Comitê de Prevenção da SBQ, Marco Almeida, cerca de 70% dos acidentes de queimaduras acontecem na cozinha. O uso de álcool para cozinhar, frente ao alto preço do gás de cozinha e o livre acesso a outros tipos do produtos, é um dos vilões e causador de parte das emergências.

Adultos são 60% das vítimas atendidas no centro. As crianças representam 40% dos pacientes, de acordo com o médico cirurgião plástico. Ele diz que, em sua maioria, acidentes na cozinham vitimam crianças, que sofram acidentes com água ou comida quente durante a preparação dos alimentos.

Em todo o Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, queimaduras por eletricidade foram responsáveis por 46,1% dos óbitos entre os queimados. No período de 2015 a 2020, ocorreram no Brasil cerca de 19,7 mil óbitos por queimaduras, dentre os quais a eletricidade foi responsável por 9,1 mil.

O centro atende pessoas com queimadura de segundo e terceiro graus, bem como pacientes graves. Hoje, para ser atendido no CTQ é necessário passar pela regulação em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), pois a depender do ferimento, o tratamento pode ser feito na própria unidade. Ainda de acordo com o médico, a queimadura traz consequências físicas e psicológicas. A marcas são permanentes e podem ser ainda emocionais. Para estes, ele diz, não existe uma linha de tratamento disponível no SUS.

Em caso de queimadura, é preciso lavar o local com água corrente abundante – não pode ser gelada ou água parada – cobrir com um pano limpo e seguir para uma unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Não é queimar e sair correndo para o Walfredo porque não é porta aberta há muito tempo”, diz.

Falta de profissionais

O CTQ atua com equipe multiprofissional para atender pacientes graves em diversas esferas. Para isso, são necessários clínicos, enfermeiros, cirurgiões plásticos e outros que atuam em cada paciente. No entanto, essa é o principal desafio do centro. Não há profissionais suficientes para realizar esse trabalho, afirma Almeida. “Nós temos uma defasagem de RH. Temos lutado muito com a Sesap, mas não temos tido sucesso”, relata.

Esse tratamento diversificado é necessário, segundo o médico, pela complexidade do paciente que precisa ser acompanhado depois do atendimento inicial, no entanto, o centro requer ampliação do tratamento pós-alta, que ainda não é oferecido. Fisioterapia, terapia ocupacional são alguns dos tratamentos que abrangem essa linha de cuidado. “O paciente queimado é muito complexo, não é um paciente co uma ferida”, complementa.

De acordo com o médico, grande parte dos atendimentos oferecidos acontecem por meio de doação, como é o caso da Sala de Reabilitação. “Nós conseguimos algumas coisas para montar a sala, mas nós precisamos do RH para efetivar isso”, diz. Ele diz ainda que existem projetos que podem ser implementados e que ajudariam no acompanhamento do paciente em diversas esferas, mas é necessário recurso para colocar em práticas as iniciativas.

Prevenção

Nesse mesmo mês também é realizada a campanha do Junho Laranja, promovida pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), que trabalha prevenção e conscientização com relação ao tema. Com o slogan “Não se choque, eletricidade queima”, a campanha deste ano foca nos acidentes com eletricidade, bem como discute políticas públicas de prevenção e incentiva cuidados necessários por parte de sociedade.

Usar proteção nas tomadas para evitar que crianças tenham livre acesso; ficar de olho na qualidade da fiação elétrica e na qualidade dos eletrodomésticos são ações que podem evitar acidentes; evitar fazer gato, mexer com fios de alta tensão também podem evitar danos.

Evitar fazer folgueiras na vertical, perto de casas, janelas e embaixo de árvores ou fiação elétrica são algumas das ações que podem evitar acidentes nesse período de São Jõao. Lembrar sempre de apagar as cinzas para evitar que as pessoas pisem e se queimem no dia seguinte também é necessário. Nunca jogar álcool em fogueira ou churrasqueira é outra medida, segundo o médico.

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