Fonte: Sindigás

O GLP é um produto essencial para a população brasileira e está presente em mais de 90% dos lares. Apesar da eficiência, segurança e capilaridade deste energético, o setor ainda enfrenta restrições de uso, freando o seu pleno desenvolvimento na matriz energética brasileira. Em 2020, com a pandemia provocada pelo COVID-19 e o caos instaurado nos sistemas de saúde em todo o mundo, medidas de enfrentamento ao novo coronavírus e em defesa da vida da população tiveram de ser adotadas. A crise sanitária tornou possível, com a autorização especial da ANP, que a Copa Energia pudesse fornecer GLP, de forma excepcional e inovadora, para um importante projeto no Mato Grosso do Sul, no qual o GLP foi empregado na geração de energia e no funcionamento de motores, que, devido regulamentação existente no país, são usos vedados. A iniciativa colaborou no aumento das instalações voltadas à assepsia dos funcionários do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS).

O projeto consistiu na implantação de estruturas provisórias do tipo “contêiner”, dotadas de suprimento de energia elétrica e água aquecida produzida por gerador a gás (duchas quentes, lavatórios quentes, bombas de pressurização dos chuveiros, acionamento do aquecedor de água, iluminação e ventilação interna dos “contêineres”, iluminação externa do pátio) e, também, uma lavadora de alta pressão dedicada para lavar e desinfectar as entradas e alamedas do hospital, com toda infraestrutura de energia gerada para alimentação destes equipamentos através do GLP. (Especificações do Gerador: Dimensões de 53cm x 50cm x 70cm, 83kg, tensão de saída de 110/220V com potência nominal de 6,5kW (8,12kVA) e potência máxima de 8kW (10kVAHP))

O objetivo do projeto foi prover infraestrutura adequada para que os profissionais da saúde realizassem o processo de higienização e trocas de vestimentas nas áreas secas dos contêineres, nos momentos de entrada e saída dos turnos de trabalho do hospital. O GLP, utilizado como fonte de energia alternativa, cumpriu com excelência seu papel, atendendo às expectativas.

Apesar de o uso de GLP para geração de eletricidade ser proibido no Brasil, por regulamentação[1] da ANP, que limita alguns usos desse importante energético, a Agência entendeu, ao liberar pontualmente a sua utilização neste projeto, que, além do gesto humanitário, estaria incentivando o conhecimento científico e a inovação. O fato marcou o início de um caminho promissor para pesquisas em outros setores da UFMS e novas aplicações do GLP. Abriu-se um precedente importante e promissor para o futuro do setor no país.

Diante da aplicação do GLP nesse projeto, foi possível constatar o grande potencial para sua utilização em substituição à transmissão das concessionárias de Energia Elétrica no horário de ponta, ou áreas remotas sem acesso a EE. Mais ainda: o GLP mostrou que também pode ser uma alternativa muito eficiente em geradores à diesel, com vantagens no aspecto ambiental.

Diante deste fato, conclui-se que não se observa mais motivos razoáveis para justificar a manutenção pela ANP das restrições de uso do GLP. O tema se arrasta há mais de 30 anos, impedindo avanços, inovações e engessando o setor. Além da oportunidade de contribuição, apresentada acima, junto às concessionárias de EE por exemplo, o GLP tem potencial para contribuir com diversos temas e para uma matriz energética mais limpa e sustentável.

Ademais, cumpre mencionar que não faz sentido a manutenção de restrições ao uso do GLP quando o Gás Natural e o GNL, que possuem basicamente as mesmas características, não enfrentam restrição alguma, resultando em um tratamento totalmente assimétrico entre combustíveis em um livre mercado e iniciativa. Vale lembrar que GN/GNL possuem muitos entraves logísticos, dada a infraestrutura fixa de distribuição, e ainda são igualmente importados como o GLP.

Todo panorama apresentado não soluciona a dúvida instaurada pela não superação dos entraves existentes. Persiste o questionamento: por qual motivo não existe restrição para o GN ou GNL? Ou melhor, por que o GLP não é liberado, visto que possui alcance maior que outros combustíveis e dispensa infraestrutura fixa para distribuição?

É preciso fazer uma reflexão: já que o planeta busca reduzir as emissões de CO2 e empresas buscam o net-zero, assim como cidades e países estão proibindo a queima de diesel, o que leva o Brasil a manter proibições de um produto que pode contribuir com políticas governamentais, nos mais diversos aspectos, das simples às mais rígidas, como para controle da emissão de CO2? No momento, segue-se buscando respostas para um tema que se arrasta há mais de 30 anos.

Jaime Kilinsky

Gerente de Novas Tecnologias da Copa Energia

[1] Publicação Sindigás – Coletânea: Ampliação do uso do GLP / Acesse: Coletânea 3.2: “Ampliação do uso do GLP”


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