Fonte: Sindigás

O ano de 2024 começou de forma bastante impactante. Para além das guerras, outras tragédias humanas como acidentes aéreos e rodoviários com perdas de vidas de forma violenta marcaram o começo deste ano, e ainda catástrofes ambientais que se tornaram recorrentes. No Texas, nos EUA, uma explosão de gás natural, com cerca de 20 feridos; e outras duas de GLP, em Aracaju e nos arredores de Porto Alegre, repercutiram na imprensa. Esse noticiário, independentemente de mostrar uma ocorrência geograficamente próxima ou não a nós, afeta a todos que assistem porque nos lembra o quanto estamos expostos a riscos no transcorrer das nossas rotinas, seja ao embarcar em um voo ou trafegar em uma estrada.

No caso específico do GLP, em 20 anos à frente do Sindigás, afirmo com propriedade que o nível de sinistralidade é baixíssimo. Mas o risco, como em tudo na vida, existe. Se fizermos uma pesquisa com os Corpos de Bombeiros de todo o Brasil, vamos concluir facilmente que acidentes com o gás, seja o GLP ou o natural, são bem menos comuns do que os causados pela energia elétrica, por exemplo. É evidente, no entanto, que produtos inflamáveis precisam ser usados com precaução.

Sempre chamamos a atenção do consumidor para as condições de segurança da instalação e do armazenamento do botijão; a ventilação dos ambientes; e a boas condições e validade (cinco anos após a fabricação) dos acessórios de uso – mangueira e regulador de pressão. São cuidados simples, mas fundamentais para garantir a segurança. O risco de um acidente com gás é basicamente o de concentração do produto, uma vez que ocorra um vazamento, em um local fechado, sem ventilação. Essa circunstância pode propiciar um incêndio ou explosão do ambiente, ao entrar em contato com uma fonte de calor. Mas vale sempre reforçar: a explosão é do ambiente, não do botijão. A embalagem é extremamente segura.

No Brasil, mais de 66 milhões de lares utilizam o GLP, o que representa 91% das famílias do país. A baixíssima ocorrência de acidentes não é fruto da sorte, mas sim do desenho que temos da regulação econômica, facilitadora na construção de um ambiente de negócios motivador e incentivador de investimentos continuados, pelas distribuidoras, na qualidade dos vasos de pressão instalados nos clientes.

Às vezes, vemos pessoas que se apresentam como “especialistas” alegar que a baixíssima sinistralidade com o GLP permite eliminar algumas normas. As mais atacadas são o respeito à marca das embalagens (garantia que somente a empresa responsável pela marca em alto relevo no botijão use aquela embalagem para comercializar o GLP); destroca de embalagens (sistema em que uma empresa, ao vender sua carga de gás, respeitando o direito de portabilidade do cliente de comprar gás de qualquer marca, recolhe o recipiente, sem burocracia ou ônus, e troca a embalagem com a empresa detentora da marca do botijão); e requalificação e manutenção (processos que garantem, com periodicidade definida em normas técnicas e econômicas, que os recipientes sejam testados à exaustão).

O ponto central é que a ocorrência de acidentes no setor de GLP é muito baixa em função do conjunto extremamente eficaz de normas técnicas e econômicas. Elas não apenas estimulam e premiam, mas também punem e fiscalizam as empresas, que são responsáveis pelo estado de cada recipiente estampado com a sua marca. Quando o consumidor faz uma compra de gás, a cada carga adquirida ele entrega um recipiente pós-uso no estado que estiver e recebe outro, retornável, que tem marcado em alto relevo o nome da empresa distribuidora responsável pela qualidade, quantidade e integridade desse botijão. Esse modelo dá garantias espetaculares ao consumidor e facilita a vida do Estado, que reduz seus custos operacionais para fiscalizar as atividades econômicas. Pode, assim, operar por amostragem e conduzir ações que conjugam INMETRO, IPEMs, ABNT, ANP, Bombeiros e outros na garantia da segurança do produto.

Em duas décadas de atividades no Sindigás, não tive contato direto sequer com um episódio no qual ficasse comprovado que o recipiente de GLP explodiu, causando o acidente. As embalagens são muito seguras e tal fato tem nexo causal direto com as rotinas de respeito à marca, à destroca e à requalificação. Nesse período, testemunhei alguns casos que, invariavelmente, estavam ligados a alguma imprudência, sejam mangueiras e reguladores fora de validade, instalações feitas em locais completamente fechados, ou mesmo tentativas de remoção de tanques estacionários sem os devidos cuidados e sem a observância de regras adequadas. Muitos deles poderiam ter sido evitados. É sobre essas possibilidades que devemos nos concentrar.

Os acidentes servem para evitar que outros ocorram, com a inserção de novos procedimentos e o aperfeiçoamento de processos. Os que geram os níveis atuais de sinistralidade em nosso setor precisam ser observados com interesse crítico do consumidor final e atenção absoluta dos reguladores. Estamos diante da oportunidade de avançarmos com mais atenção na melhoria das rotinas de uso e do perfil das instalações. Esse é um tema de total interesse das associadas ao Sindigás, que estão sempre abertas ao debate qualificado.

Por fim, expresso meu pesar pelas vidas perdidas nos mais diferentes acidentes ocorridos neste início de ano e pela tristeza experimentada pelos seus familiares. Cabe às sociedades mitigarem os riscos, aperfeiçoarem de forma continuada seus processos e procedimentos nas diferentes cadeias de prestação de serviços e fornecimento de produtos, bem como aos consumidores manterem elevada atenção em suas rotinas de uso.

Como não é possível voltar no tempo, precisamos aprender coletivamente com nossas vivências a mitigar os riscos. É preciso, com firme propósito e disposição, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar a repetição de falhas que resultam em acidentes. Não é difícil, mas exige vigilância e esforço.

Sergio Bandeira de Mello

Presidente do Sindigás

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