Sergio Bandeira de Mello – Superintendente Executivo do Sindigás

 

A crise da Bolívia, deflagrada há alguns dias, trouxe consigo a repentina preocupação de desabastecimento de gás natural, que poderia afetar não apenas os consumidores residenciais, nas áreas atendidas por esse energético, mas principalmente as indústrias que recentemente investiram na conversão de seus equipamentos.

Toda crise proporciona aprendizados e experiências, que podem ser importantes, no mínimo, para evitar problemas semelhantes no futuro. Esta serviu para a reavaliação de paradigmas da matriz energética brasileira. Entre outros aspectos, evidenciou o valor de opções consagradas e disponíveis em nosso país, principalmente o GLP. Este produto, por vezes banalizado, cujas múltiplas possibilidades de aplicação ainda ficam restritas – pelas normas vigentes – e todos pensam que este serve exclusivamente para uso como gás de cozinha, deve ser antes de tudo um motivo de orgulho, por estar presente em mais de 95% dos lares brasileiros e em 100% dos municípios do território nacional.

Infelizmente não houve manifestações de aplauso ao GLP na crise energética de 2001, por exemplo, cujos “apagões” até hoje são lembrados quando há risco de novas crises no abastecimento de energia elétrica. Naquela ocasião, o GLP desempenhou um importantíssimo papel, que poderia ter sido melhor se as residências tivessem mais aquecedores a gás e menos chuveiros elétricos. Grande parte da população usa energia elétrica para o aquecimento do banho, mas este sistema é ineficiente e anti-econômico em comparação com a eficiência energética e a relação custo-benefício que se obtém com o uso do GLP. O consumidor residencial que decidir trocar seu chuveiro elétrico pelo aquecedor a gás vai economizar o suficiente para reaver em até seis meses o custo da nova instalação.

Quando surgiu no Brasil a alternativa do gás natural, uma das principais vantagens a ele atribuídas era a não-necessidade de manter estoques e inventários. Um fantástico “just in time”. Inegável qualidade, principalmente considerando-se que este insumo era oferecido a custos bastante compensadores para grandes consumidores, como refinarias, termoelétricas e grandes consumidores em geral, por força de artificialismos nos impostos e nos preços. Agora, diante de um fato novo como a crise na Bolívia, mostra-se como um fator extremamente grave e preocupante a impossibilidade de se garantir o abastecimento ininterrupto e de se armazenar o gás natural.

O GLP, ao contrário, pode ser armazenado e transportado com facilidade, sem necessidade de gasodutos, chegando onde for preciso, por qualquer meio de transporte – caminhão, caminhonete, vagão-tanque, triciclo, barco, chata, balsa, carroça e até lombo de jegue. Como for necessário e possível transportar, o produto chega. Tanto os consumidores residenciais quanto as empresas podem ter tranqüilidade quanto à continuidade de seu fornecimento e a operacionalidade de seu uso.

O GLP não é concorrente do gás natural em consumidores de grande porte. Este é um produto nobre, um insumo barato e que para grandes industrias, inegavelmente competitivo e eficiente. Mas é importante lembrar que o fato de não termos ainda auto-suficiência em gás natural deixa o nosso país sujeito a riscos de desabastecimento, como foi sinalizado pela recente crise na Bolívia. Caso a interrupção no fornecimento houvesse continuado por mais alguns dias, centenas de indústrias no Brasil ficaram sem energia para mover suas máquinas. Esse acontecimento mostrou, de forma inequívoca, a importância de se contar com uma alternativa segura, que sirva de back-up para as indústrias.

Hoje inteiramente produzido no Brasil, o GLP é a melhor alternativa, no caso de faltar gás natural para os consumidores industriais. Além disso, é versátil e limpo, proporcionando ganhos de produtividade e qualidade a diversas indústrias.

 

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