Adriana Gioda, Professora e Doutora do Departamento de Química da PUC-Rio

Estudos científicos sobre os efeitos adversos à saúde humana da queima de combustíveis sólidos, em domicílios, para cocção, avançaram bastante nos últimos dez anos. Os resultados revelam um grave problema de saúde pública mundial, segundo as estimativas relativas ao número de mortes de crianças e adultos associados com a exposição a este fator de risco, divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com o relatório da OMS de 2014, em pleno século XXI, ainda há cerca 2,8 bilhões de pessoas que dependem de combustíveis sólidos (madeira, esterco, resíduos de colheitas, carvão vegetal, carvão etc.) e fogões simples para cozinhar e aquecer; e 1,2 bilhão de pessoas que utilizam lâmpadas de querosene para iluminação. A queima de combustíveis sólidos em fogões com ventilação ineficientes e em ambientes fechados produz altos níveis de poluentes, muito maiores que os recomendados pelas agências ambientais.

A OMS aponta que a poluição do ar em ambientes residenciais, devido à queima de combustíveis sólidos, tem sido a responsável pela morte prematura de, pelo menos, 4,3 milhões de pessoas ao redor do mundo, anualmente. A maioria dessas mortes é decorrente de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão.

Os problemas de saúde causados pelo uso da lenha em ambientes fechados estão relacionados ao tipo de combustão. Em um processo de combustão (queima) completa há emissão de luz, calor, vapor de água e o gás dióxido carbono. No entanto, a combustão completa nem sempre ocorre, como é o caso da queima da lenha. Na combustão incompleta de combustíveis sólidos, além de dióxido de carbono e vapor de água, também são produzidos gases tóxicos como o monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio, além dos compostos orgânicos voláteis e semivoláteis, que incluem o benzeno, formaldeído e benzopireno, que são altamente cancerígenos; e as partículas, que causam diversos danos ao sistema cardiorrespiratório.

No Brasil, a lenha ocupa uma parte importante da matriz energética.  O volume de lenha utilizado com fins energéticos residenciais no Brasil é de 18.521 milhões de metros cúbicos. Se for considerado um consumo médio de lenha de 2 m3/pessoa, pode-se estimar que uns 30 milhões de pessoas fazem uso desta fonte de energia no país, e estão principalmente dentro das camadas mais pobres da população.

Alguns estudos pontuais têm sido realizados na região Norte, e principalmente, Nordeste do Brasil. Na região Nordeste está o maior número de fogões à lenha (42% do total) do país, e é onde também se encontra a população de mais baixa renda. Nesta região a principal fonte de lenha é a caatinga, representando quase 50% da energia primaria. Cerca de 80% da lenha retirada deste bioma é utilizada como fonte de energia, sendo a principal causa de desmatamento. Apenas 3% desta lenha são retiradas de forma sustentável.

 

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