Fonte: Sindigás

Falar sobre botijão de gás no LinkedIn pode parecer, à primeira vista, um tanto fora de contexto. Afinal, estamos aqui, navegando com nossos smartphones de última geração, conectados em nuvens, inteligência artificial e nos deparando com notícias sobre transições energéticas verdes. Para muitos, o GLP soa como uma solução antiga, um combustível fóssil que já deveria ter sido superado.

Mas essa é a miopia de uma bolha — a bolha de quem, como nós, vive cercado de conveniências. Para boa parte da população brasileira e mundial, um botijão de gás é a porta de entrada para dignidade, saúde, tempo livre e até esperança.

A ONU define a pobreza energética como a ausência de acesso a formas modernas de energia, e a inclui como um dos alvos centrais da Agenda 2030. Mais do que a falta de luz elétrica, ela significa cozinhar com lenha catada, carvão, esterco ou restos de lixo — fontes de calor tóxicas, ineficientes e que cobram um alto preço da saúde, do tempo e da qualidade de vida.

Esses impactos atingem com força desproporcional a mulheres e crianças. São elas que enfrentam o calor e a fumaça desta lenha, o risco de queimaduras, as doenças respiratórias, a perda de tempo para o estudo, o trabalho e o lazer.

O programa Pradhan Mantri Ujjwala Yojana (PMUY), lançado pelo governo da Índia, é um dos maiores exemplos mundiais de como o GLP pode transformar vidas. Em menos de uma década, mais de 90 milhões de famílias de baixa renda foram atendidas com conexões de gás. Estudos indicam melhora significativa na saúde, redução no tempo gasto com coleta de lenha, aumento da escolaridade das meninas e maior inserção das mulheres no mercado de trabalho.

O Brasil tem tudo para dar um salto à frente. Temos uma das maiores e mais eficientes redes de distribuição de GLP do mundo, presente nos rincões mais distantes — das palafitas do Norte aos sertões do Nordeste, das comunidades urbanas às vilas rurais mais isoladas.

Já existe o “Auxílio Gás” – programa do Governo Federal criado para ajudar famílias de baixa renda na aquisição do gás de cozinha –, mas ele pode e deve ser aprimorado. Sua ampliação e integração com políticas sociais mais robustas seriam um marco civilizatório. E o melhor: com uma infraestrutura já pronta para operar essa transformação de forma segura, eficiente e escalável.

O impacto do GLP vai além do calor que cozinha os alimentos. Ele traz:

· Conveniência: Uma cozinha limpa, sem fuligem, com tempo e energia poupados.

· Saúde: Menos doenças respiratórias, menos acidentes domésticos.

· Educação: Mais tempo para estudar, brincar, viver.

· Empoderamento: Mais dignidade e autonomia, especialmente para as mulheres.

Sim, o GLP é um energético genial — estável, portátil, seguro e com baixas emissões no ponto de uso. E, justamente por ser tão eficaz, nos acostumamos a ele a ponto de não valorizá-lo adequadamente. Mas, para milhões de brasileiros, ele ainda é a ponte para um futuro melhor.

Enquanto falamos de inovação e futuro, precisamos também ampliar o olhar para as soluções já disponíveis e que ainda não chegaram a todos. O gás de cozinha é uma dessas soluções. Ele não pertence ao passado — pertence ao presente de quem mais precisa e ao futuro de um Brasil mais justo.

Neste momento em que o mundo busca alternativas energéticas, não podemos considerar que a transição verde ocorra à custa da exclusão energética de quem ainda luta pelo básico.

A chama do GLP continua acesa — e pode iluminar o caminho para a dignidade de milhões.

Sergio Bandeira de Mello

Presidente do Sindigás


Copyright © 2016 - Sindigas - www.sindigas.org.br — Todos os direitos reservados - Política de Privacidade