Fonte: Sindigás
No Brasil, cerca de 50 milhões de pessoas ainda cozinham com lenha ou carvão, expondo crianças e adultos a doenças respiratórias graves e limitando oportunidades de estudo e trabalho. Essa realidade, que ainda aflige 22,9 dos lares do país (EPE), evidencia que a pobreza energética não é apenas um dado estatístico: é uma barreira concreta ao desenvolvimento humano. A realidade tem um custo elevado: estima-se que perdas por mortes prematuras e incapacidades somem 360 mil DALYs (OMS/2019 – tempo perdido em anos por morte prematura e incapacidade), com impacto econômico em saúde pública próximo de R$ 5 bilhões. (Sindigás, PUC, Uerj / 2023)
Enquanto o mundo debate transições energéticas complexas, para essas famílias a prioridade é muito mais simples: ter acesso a uma energia segura e mais limpa que o carvão ou a lenha dentro de casa. É nesse cenário que o GLP se revela não apenas uma solução energética, mas um instrumento de transformação e inclusão social.
A história do GLP no país se entrelaça com a história de políticas públicas que realmente fazem a diferença e transformam vidas. Desde os anos 1940, quando começou a se popularizar em áreas urbanas, até o anúncio do programa “Gás do Povo” em out/2024 (na época “Gás para Todos”), que pretende atender a 15,5 milhões de famílias de baixa renda, o gás de cozinha desempenha papel central na redução da vulnerabilidade energética. Hoje, representa 21% da matriz energética residencial. Curiosamente, 92,2% das famílias que usam lenha também recorrem ao GLP, o que revela que a lenha funciona mais como complemento e que o gás já está presente nesses lares, com condições de substituir integralmente as fontes poluidoras.
Essa substituição representaria uma transformação profunda na qualidade de vida das famílias. O acesso ao gás muda a vida das pessoas de forma concreta, reduzindo a poluição doméstica (responsável por 3,2 milhões de mortes anuais no mundo, incluindo 230 mil crianças com menos de cinco anos – OMS/2022), e liberando o tempo de mulheres e crianças, antes dedicado à coleta de lenha. Essa mudança tem ainda o poder de promover impacto positivo de proteção às florestas. No campo e em áreas remotas, onde alcançar comunidades é um desafio, o GLP se destaca pela portabilidade e flexibilidade: o botijão chega diretamente às famílias, da periferia urbana ao interior mais distante, sem depender de redes complexas. Isso significa que energia segura e mais limpa que outros combustíveis, como lenha e carvão, pode chegar a quem mais precisa, democratizando o acesso à cocção doméstica digna.
Programas sociais como Vale-Gás, Auxílio Gás dos Brasileiros e o atual, recém-lançado, “Gás do Povo”, mostram a maturidade das políticas públicas, reconhecendo que energia é um direito fundamental. O “Gás do Povo” é um programa de larga escala, voltado para quase um quarto das famílias brasileiras, com o objetivo de reduzir a pobreza energética e garantir acesso seguro à cocção doméstica. O orçamento reservado para o Gás do Povo é de R$ 3,57 bilhões em 2025 e R$ 5,1 bilhões em 2026, ampliando o orçamento em R$ 1,4 bilhão no modelo atual, alcançando 15,5 milhões de famílias, reforçando o compromisso com a inclusão energética. O programa permitirá adesão livre das revendas, trazendo flexibilidade e transparência à distribuição.
As distribuidoras associadas ao Sindigás e seus revendedores parceiros têm papel fundamental nesse processo. Não se trata apenas de distribuir um produto, mas de contribuir para um país mais justo e inclusivo, principalmente, às camadas sociais mais vulneráveis. A eficiência na cadeia e as parcerias com políticas públicas mostram que responsabilidade social e sustentabilidade econômica podem caminhar juntas.
Claro que desafios permanecem. É preciso ampliar a cobertura dos programas sociais, fortalecer mecanismos de fiscalização para evitar desvios e precarização do serviço, além de investir continuamente na modernização da cadeia de distribuição. Mais do que isso, é fundamental que a sociedade e o poder público reconheçam o acesso ao GLP como investimento estratégico em saúde, educação e desenvolvimento social.
O Brasil tem todos os ingredientes para liderar uma transição energética inclusiva: matriz diversificada, tecnologia consolidada e cadeia produtiva estruturada. O GLP não é apenas combustível, é a chama azul que ilumina cozinhas e transforma vidas. Investir no acesso a uma energia mais segura é investir em um país mais equitativo, onde qualidade de vida e dignidade caminham lado a lado.
Sergio Bandeira de Mello
Presidente do Sindigás